Se em vez de velho disseres novo
Ficas a saber que a língua portuguesa
É povo.
Se em vez de fome disseres pão
E chegada em vez de partida
Ficas a saber que a língua portuguesa
É vida.
Se em vez de abutre for gaivota
Se em vez de escuridão for luar
Ficas a saber que a língua portuguesa
É mar.
Se em vez de grade disseres campo
E em vez de lição disseres livro
Ficas a saber que a língua portuguesa
É livre.
E se em vez de escrevo for um cravo
Se em vez de prisão for amor
Ficas a saber que a língua portuguesa
É uma flor.
Sebastião da Gama
Nota Biográfica:
Sebastião Artur Cardoso da Gama (Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal, 10 de Abril de 1924 - Lisboa, 1952) foi um poeta e professor português, licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 1947. Foi professor em Lisboa.
Colaborou nas revistas Árvore e Távola Redonda.
A sua obra encontra-se ligada à Serra da Arrábida, onde vivia e que tomou por motivo poético de primeiro plano (desde logo no seu livro de estreia, Serra-Mãe, de 1945), e à sua tragédia pessoal motivada pela tuberculose.
Fundador da Liga para a Protecção da Natureza em 1948.
O seu Diário, editado postumamente em 1958, é um interessantíssimo testemunho da sua experiência como docente e uma valiosa reflexão sobre o ensino.

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