quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

FICHA DE TRABALHO SOBRE «A NOTÍCIA»

1. Lê a notícia seguinte com atenção. Depois responde às questões:
Esteve em Alvalade, mas... remeteu-se ao silêncio (A

SÁ PINTO PARA ALEGRAR (B
(C Ricardo Sá Pinto voltou ontem, por 90 minutos a Alvalade. O jogador, cuja suspensão de competir termina a 21 de Julho, remeteu-se ao silêncio.
(D Sá Pinto surgiu em Alvalade acompanhado por Paulo Abreu e remeteu-se ao silêncio, atitude que decidiu tomar desde que saiu para Espanha. Ainda teve o prazer de ouvir a Juve Leo cantar o seu nome e de levar muitas palmadas dos amigos. Pelos vistos, e pelo resultado final, o seu regresso, ainda que temporário, a Alvalade motivou e alegrou os antigos companheiros de equipa. Sá Pinto regressa hoje a San Sebastian.
( "A BOLA", 22/3/06)
a) Que nome dás às partes indicadas pelas letras?:

(A___________________________________________________________;
(B___________________________________________________________;
(C___________________________________________________________;
(D___________________________________________________________.

b) Copia o lead.
2. Classifica morfologicamente as palavras:

Ricardo

jogador

surgiu

prazer

seu

temporário

antigos

II

1. Complete correctamente os espaços em branco.

a) O que é uma notícia?

b) A função da linguagem utilizada na produção de uma notícia é a função _____________________ e o seu objectivo é ____________________. A linguagem utilizada tem que ser ___________________ por forma a permitir uma única _____________________ por parte dos inúmeros leitores.
c) O _______________ é a pessoa que vende ou distribui os jornais.
d) Chama-se __________________ a uma publicação informativa publicada uma vez por semana e ______________________ a um jornal publicado de manhã.

2. Atente na seguinte notícia.

"Prestige" continua a derramar fuelóleo

Quarta maré negra
A Quarta maré negra, proveniente do derrame do "Prestige", atingiu, este Domingo, as praias galegas a Norte do cabo Finisterra, o que veio tornar ainda mais difícil a limpeza da orla costeira.

Esta nova vaga pode ser resultado de um mancha à deriva não assinalada pelas equipas de vigilância, de acordo com António Alonso, adjunto do presidente da Câmara de Camarina, uma das vilas mais afectada pela crise. O "Prestige" tem vinte fissuras detectadas, algumas delas ainda não soldadas pelo mini-submarino francês não tripulado, o Nautile, continuando a derramar fuelóleo.
O trabalho de limpeza, este Domingo, foi feito com alguma dificuldade, devido às más condições atmosféricas que se verificam na região, com chuvas e ventos fortes. Mais de oito mil pessoas, entre voluntários e militares, trabalham este fim-de-semana prolongado em Espanha, "sem os meios adequados para fazer face ao problema", segundo um porta-voz dos pescadores. O "Prestige" encontra-se a uma profundidade de 3600 metros, ao largo da costa galega.
No total, já foram recolhidas cerca de 16 mil toneladas de crude nas operações de limpeza.
Público, 24/03/02


2.1. Leia atentamente a notícia e responda às seguintes questões.

a) Quem? ________________________________________________
b) O quê?________________________________________________
c) Quando? ______________________________________________
d) Onde? ________________________________________________
e) Como? ________________________________________________
f) Porquê? _______________________________________________

3. Analise sintacticamente as frases seguintes:

a) A maré negra atingiu, este Domingo, as praias galegas.
b) O trabalho de limpeza, este Domingo, foi feito com alguma dificuldade.

III

Produção de Texto
a) Considerando as seguintes perguntas e respostas, redija uma notícia. Não se esqueça de respeitar a sua estrutura.

Quem? os alunos do Curso de IOSI (maiores de 18 anos)
O quê? foram assistir a uma peça de teatro
Quando? Quarta-feira, dia 26 de Março
Onde? Teatro São João, no Porto

Porquê? promover hábitos culturais e incentivar os formandos para o género dramático
Como? Transporte do Centro de Formação Profissional do Porto

A NOTÍCIA


A notícia é um texto do domínio da comunicação social, com carácter informativo. Relata acontecimentos novos ou situações pouco habituais. O que a caracteriza é a actualidade, a objectividade, a brevidade e o interesse geral.

Na notícia, as informações devem ser apresentadas por ordem decrescente de importância: as mais importantes no início (TÍTULO E LEAD) e as menos importantes no CORPO DA NOTÍCIA.

A linguagem da notícia deve:

· Ser clara, simples, concisa e exacta;
· Empregar um vocabulário corrente;
· Recorrer, preferencialmente, ao nome e ao verbo, evitando os adjectivos valorativos;
· Utilizar a terceira pessoa (o jornalista nunca escreve “eu”);


Título – encabeça a notícia; deve ser preciso e expressivo, a fim de captar a atenção do leitor.

Está de acordo com o LEAD e pode fazer-se acompanhar de um antetítulo e / ou de um subtítulo.


Lead (cabeça ou parágrafo-guia) – primeiro parágrafo que resume o que aconteceu. Tem como objectivos captar a atenção do leitor e fornecer-lhe as informações fundamentais. Deve, pois, responder às seguintes questões essenciais:


- QUEM?;

- O QUÊ?;

- ONDE?

- QUANDO?.


Corpo da notícia – restantes parágrafos onde se dão outras informações menos importantes. Responde, normalmente, às questões COMO? e PORQUÊ?.

VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS MASS MEDIA

MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
Os jornais, tal como as revistas, a rádio e a televisão são considerados “Mass Media”, que é uma expressão inglesa que significa “Meios de Comunicação de Massa”, ou seja, são todos os meios de comunicação que se dirigem a um vasto público. Estes mios são muito importantes na vida das pessoas em todo o mundo e objecto de discussão quanto ao seu papel na sociedade. Muitas pessoas acusam-nos de ser a razão de todos os males, outros pelo contrário, só lhes encontram qualidades.

Completa , de acordo com a tua opinião, as vantagens e desvantagens dos mesmos:
* VANTAGENS:
- Mantêm as pessoas informadas de tudo o que se passa no mundo.
- Permitem a diversão e momentos de lazer.
- ...
* DESVANTAGENS:
- Diminuem o tempo de convívio familiar na medida em que “deixamos de conviver” para estarmos atentos ao que se vai passando nos meios de comunicação social.
- ...

COMUNICAÇÃO SOCIAL

COMUNICAÇÃO SOCIAL - ARMA SECRETA

A comunicação social enche as nossas casas, impede-nos o caminho, ocupa-nos o tempo de lazer ou serve-nos de companhia ao longo da via­gem. Já não somos capazes de viver sem os "mass media"! Já não con­seguimos passar sem o noticiário, as imagens da televisão ou os comentários jornalísticos! A imprensa escrita, a radiodifusão, a televisão e o cinema tornaram-se indispensáveis à vida do homem.
Com a invenção dos satélites de telecomunicações e com a expansão da informática, os "media" transformaram-se em forças poderosas que não se limitam ao campo meramente informativo, mas tendem a modificar a mentalidade, a cultura e o comportamento do homem. Chegam de todo o lado, invadem o espaço e impõem as suas ideologias e os seus modelos culturais. Por vezes, cortam ou relegam para segundo plano o diálogo entre as pessoas.
Como diz F. Nietzsche, "quando se conhece o leitor, já nada se faz pelo leitor...". E o perigo dos "media" reside no facto de conhecer o leitor ape­nas como ser facilmente influenciável, a quem se deve oferecer tudo o que ele deseja sem qualquer preocupação. Inventam-se novos valores, desper­tam-se novos interesses, criam-se imagens de bem-estar. Por isso, a comu­nicação social começa a levantar problemas ao homem e às próprias instituições. Pelo seu enorme poder e a sua capacidade persuasiva começa a transformar-se na arma secreta de todos aqueles que conseguem ter nas mãos os principais meios de comunicação escrita ou audiovisual.
Compreender o mundo que nos é oferecido pelos meios de comunicação social é extremamente importante para que continuemos a ser homens individuais, criadores e dotados de uma personalidade própria.

Compreensão da Mensagem

1. A mensagem obedece a uma determinada estrutura das ideias.

1.1. Divide o texto nos seus momentos principais.

1.2. Identifica a ideia de cada um desses momentos.

2. "Já não somos capazes de viver sem os mass media."

2.1. Mostra a importância dos meios de comunicação social na vida dos homens.

2.2. Distingue os benefícios e malefícios da dependência da comunicação social.

3. " ... começa a transformar-se na arma secreta..." (linhas 20-21)

3.1. Enumera alguns dos problemas que a comunicação social levanta ao homem.3.2. Justifica a expressão de que a comunicação social "começa a transformar-se na arma secreta ".

«MASS MEDIA»: MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL ou "MASS MEDIA"


"Mass media" é uma palavra inglesa que significa intermediário ou suporte de massas.

"Os "mass media" são ao mesmo tempo canais de difusão e meios de expressão que se dirigem não a um indivíduo personalizado mas a um "público-alvo" definido por características sócio-económicas e culturais, em que todos os receptores são anónimos."

(A. Moles, La Communication et les mass media, Gérard-Marabout, 1971.)


O telefone não entra na categoria dos "mass media", o cinema, a rádio, a televisão, a imprensa, o livro (com algumas reservas), a publicidade mural são "mass media". O teatro, na sua forma social corrente, é-o sob fortes reservas: não existe nele um carácter de amplificação devido ao medium em si, nem ao anonimato do público-alvo.

Marc Angenot, Glossário da crítica contemporânea


Compreensão da Mensagem

1. Por palavras tuas, define mass media.

2. Identifica os receptores dos meios de comunicação social.

3. Enumera os meios de comunicação social.

4. Que meio de comunicação actual não é mencionado neste texto?

Estrutura da Língua

1. Faz o levantamento das palavras esdrúxulas.

2. Identifica os estrangeirismos presentes no texto.

3. Relembra a formação das palavras: palavras derivadas por sufixação e prefixação - palavras compostas por aglutinação e justaposição.

3.1. A partir do texto, dá exemplos de palavras compostas e palavras derivadas.

4. "O telefone não entra na categoria dos mass media."

4.1. Faz a decomposição da frase nos seus constituintes fundamentais.

4.2. Identifica o sujeito e o predicado.

4.3. Faz o levantamento dos determinantes que se encontram na frase.

5. "... na sua forma social corrente."

5.1. Distingue as subclasses de determinantes que encontras na expressão.

5.2. Identifica os adjectivos.

FICHA DE TRABALHO SOBRE «A DECLARAÇÃO»


Os direitos do leitor


«Quanto ao livro nada mais. Passemos ao leitor. Porque, mais instrutivos ainda do que os modos de tratar os livros, são os modos de os ler. Em matéria de leitura, nós, os "leitores", temos todos os direitos, a começar pelos que recusamos aos jovens que pretendemos iniciar na leitura. Para o escritor Daniel Pennac, os dez direitos do leitor são:



1) O direito de não ler.

2) O direito de pular páginas.

3) O direito de não terminar um livro.

4) O direito de reler.

5) O direito de ler qualquer coisa.

6) O direito de amar os "heróis" dos romances.

7) O direito de ler em qualquer lugar.

8) O direito de ler uma frase aqui e outra ali.

9) O direito de ler em voz alta.

10) O direito de não falar do que se leu.»


(Daniel Pennac, 1944, Como um Romance)

1. ACTIVIDADE

a) Alguns destes direitos são surpreendentes e até polémicos. Porquê?

b) Escolhe um dos direitos do leitor e explica por que o escolheste.

c) Constrói outras declarações com 10 direitos. Por exemplo: os direitos do pintor, do utilizador da internet, etc.


2. ACTIVIDADE
Pré-Leitura


1 – O texto a seguir apresentado é um excerto de uma crónica de Mia Couto para um jornal português, em que o autor dá conta de um equívoco de que foi alvo, pois confundiram-no com uma estrela de cinema: Chuck Norris. Lê-o com atenção.






quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

LIVRO... PARA QUE SERVE?


"O Mundo está cheio de livros preciosos que ninguém lê"

Umberto Eco



"Livros são os mais silenciosos e constantes amigos; os mais acessíveis e sábios conselheiros; e os mais pacientes professores."

Charles W. Elliot



"É claro que meus filhos terão computadores, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever - inclusive a sua própria história."

Bill Gates



"A leitura de um bom livro é um diálogo incessante: o livro fala e a alma responde."

André Maurois



"A leitura é para o intelecto o que o exercício é para o corpo."

Joseph Addison



"A leitura é uma conversação com os homens mais ilustres dos séculos passados."

René Descartes



"A leitura especializada é útil, a diversificada dá prazer."

Séneca



"A leitura engrandece a alma."
Voltaire



"A leitura nutre a inteligência."

Séneca

SUGESTÕES DE LEITURA

1. Versos com Reversos de João Pedro Mésseder



Na primeira parte deste livro, dirigida aos mais novos, as palavras entretêm-se por vezes nos seus jogos de sons e de significados. Na segunda parte, disfarçadas de meninas sérias, convidam leitores mais crescidos a partir com elas a descobrir mundos: o dia, a noite, os seres que os povoam. E assim procuram dar a ver o avesso de cada coisa ou de cada criatura, escondido no reverso de um verso ou de uma palavra. Não foi sempre essa uma das ambições da poesia?


Tabuada dos dois

Dois vezes um dois.
Carrega-me com os bois.

Dois vezes dois quatro.
Engraxa-me os sapatos.

Dois vezes três seis.
Ganhas uns vinténs.
Dois vezes quatro oito.
Talvez sete ou oito.

Dois vezes cinco dez.
Escova os canapés.

Dois vezes seis doze.
Afinal dou-te onze.

Dois vezes sete catorze.
Nem onze nem doze.

Dois vezes oito dezasseis.
Só te dou é seis.

Dois vezes nove dezoito.
Faço-te num oito.

Dois vezes dez vinte.
Chega de preguiça.

Não sou tua criada.
Só te dou de meu
esta rima errada.


2. Constantino guardador de vacas e de sonhos




Pequeno labirinto de nomes e alcunhas


«Tem doze anos, mas não deitou muito corpo para a idade. Ainda está a tempo. Um homem cresce até ao fim da vida, se não em altura, pelo menos em obras e ambições. E nisso promete.Por voto do padrinho e assentimento dos pais, recebeu no registo o nome de Constantino. É um nome bonito, sim senhor. Na aldeia não há outro igual, e isso é bom, pensou a mãe; escusa uma pessoa de matar a cabeça como em certas casas em que os homens usam o mesmo nome e ninguém se entende. Na Chamboeira conheceu ela uma mulher, a Ti Pirralha, metida num inferno de portas adentro por causa de o marido, o filho e o neto se chamarem António.Enquanto o rapaz foi pitorro, tudo correu bem. Um era o António Grande, o outro só António e o mais novo o António Pequeno, O rapaz porém, deitou muito corpo, e depressa, enquanto o avô continuou cartaxinho, cartaxinho e melindroso, pois começou a pôr-se de vidro fino quando a mulher lhe chamava Grande, vendo nisso uma artimanha dela para se vingar de certas desfeitas que lhe fazia quando bebia um copo a mais.«Grandes são os burros», refilava então o velho, muito rezingão, com reumático nas cruzes, umas dores parvas como dentadas de lobo. Mas andou tudo raso naquele casal quando a Ti Pirralha o tratou por António Velho para chamar Novo ao neto, o que incendiou o marido, e de tal jeito que a mulher teve de se esconder três dias em casa duma vizinha.«Velhos são os trapos!», gritava o António Pirralha chamando corja ao povo inteiro da sua aldeia – que não gostava muito dele, valha a verdade.Foi isto mais ou menos o que a mãe do Constantino lembrou ao marido para defender o nome escolhido pelo compadre. Constantino era um nome bonito para rapaz.»


Alves Redol, Constantino Guardador de Vacas e de Sonhos, Editorial Caminho, Lisboa, 20ª ed, 1990


3. TERNURA de Eduardo Olímpio




Aos 15 anos


"Minha Nossa Senhora, rebentou dentro de mim essa coisa maravilhosa a que chamamos Vida. Aprendi a gostar dos rios e dos pássaros, das moças e dos trovões, rebolei-me em todo o chão do meu Alentejo, comi barro, abracei lama, cicatrizei-me de penhascos. E descobri que o amor nasce todos os dias nas folhas dos aloendros, nas espigas do centeio, debruado de sol e girassóis com montanhas de ternura pelo meio.Oh, Meus belos companheiros de Melides: Barrinha sabido que já correra Marrocos e Mourarias, roubara carteiras a "camones" e beduínos mas de tudo se desprendia como a fonte se dá em água. E tu, maravilhoso António Rodrigues dos Santos, homem de 15 anos, chefe da casa, que mortos já eram teu pai, tua mãe e teu irmão? E tu, meu Chico Velhinho, bobo da corte, com um sorriso tão dramático e doloroso, que ainda hoje, quando penso em ti, me sinto culpado de todas as insensibilidades do mundo. E tu, meu caro Arménio, complexado filho-de-pai-incógnito, anátema que só uma virgem mas indestrutível solidariedade do nosso clã transformou num homem bom, aberto, camarada?E tu, e tu e tu, ó tantos amigos, tanta moça amada, tantos velhos cavadores que me ensinaram, sobre poiais frescos das velhas casas, os ângulos da pedra filosofal...Quinze anos. Quinze anos. Quinze anos. A vida toda despida à minha frente em arremessos de amor, chão, ternura e amizade:- Foi aos quinze anos que descobri que um homem sozinho não vale nada."


Eduardo Olímpio - Ternura
4. Cem anos de solidão






"[...]
Você está a sentir-se mal? - perguntou-lhe.Remedios, a bela, que segurava o lençol pelo outro extremo, teve um sorriso de piedade.- Pelo contrário - disse, - nunca me senti tão bem. Acabava de dizer isto quando Fernanda sentiu que um delicado vento de luz lhe arrancava os lençóis das mãos e os estendia em todaa sua amplitude. Amaranta sentiu um tremor misterioso nas rendas das suas anáguas e tratou de se agarrar ao lençol para não cair, no momento em que Remedios, a bela, começava a ascender. Úrsula, já quase cega, foi a única que teve serenidade para identificar a natureza daquele vento irremediável e deixou os lençóis à mercê da luz, olhando para Remedios, a bela, que lhe dizia adeus com a mão, entre o deslumbrante bater de asas dos lençóis que subiam com ela, que abandonavam com ela o ar dos escaravelhos e das dálias e passavam com ela através do ar onde as quatro da tarde terminavam, e com ela se perderam para sempre nos altos ares onde nem os mais altos pássaros da memória a podiam alcançar.[...]"


Gabriel García Márquez - excerto de Cem anos de solidão (Pub. EA , 1971)



5. MORTE EM VENEZA de Thomas Mann


" Imagem e espelho! Os seus olhos abraçaram a nobre silhueta adiante, na borda do mar azul, e, num arroubo de encantamento, teve a percepção de que este relance o compenetrava da própria essência do belo, da forma como pensamento divino, da perfeição única e pura que habita o espírito e ali erigia, para adoração, uma imagem, um símbolo claro e gracioso. Era esse o seu êxtase. E o artista no declínio da vida acolheu-o sem hesitar, avidamente mesmo. O seu espírito abriu-se como que em trabalho de parto, toda a sua formação e cultura efervesceram, sofreram mutação, a sua memória fez aflorar pensamentos primitivos, transmitidos como lendas à sua juventude e até então nunca avivados por chama própria. Não estava escrito que o sol diverte a nossa atenção das coisas do intelecto para as coisas dos sentidos? Segundo se dizia, ele atordoa e enfeitiça a razão e a memória, ao ponto de a alma, afundada em prazer, esquecer totalmente o seu estado real, ficando presa em êxtase ao mais belo dos objectos iluminados pelo Sol, e então é só com a ajuda de um corpo que ela encontra forças para se elevar a contemplações mais altas. Na verdade, Amor fazia o mesmo que os matemáticos, apresentando às crianças não dotadas imagens tangíveis das formas puras: assim o deus se comprazia em servir-se também, para nos tornar visível o espiritual, da forma e cor da juventude humana, que enfeitava com todo o esplendor da beleza, para instrumento da lembrança, fazendo-nos inflamar, ao vê-la, de dor e esperança.Assim pensava o espírito exaltado de Aschenbach; assim se revelava o poder dos seus sentimentos. E o marulhar das águas e o brilho do Sol teceram a seus olhos uma imagem encantadora. Era o velho plátano não distante das muralhas de Atenas — aquele local divinamente sombrio, cheio da fragrância das flores de agnocasto, ornado de imagens sagradas e oferendas piedosas em honra das ninfas e de Acheloo. O ribeiro caía límpido aos pés da árvore frondosa, sobre cascalho liso: os grilos cantavam. Sobre a relva, porém, que descia em declive ligeiro, onde se podia, estando deitado, manter a cabeça mais alta, estavam dois homens estendidos, ali protegidos do calor intenso do dia: um velho e um rapaz, um frio, o outro belo, a sapiência a par da graça. E, entre graças e brincadeiras espirituosas, Sócrates ilustrava Fedro acerca do desejo e da virtude. Falava-lhe do sobressalto ardente sofrido pela pessoa sensível quando esta vislumbra uma imagem da beleza eterna; falava--lhe do apetite do impuro e do mau, que não pode conceber a beleza, ao ver a sua imagem, e é incapaz de veneração; falava-lhe do temor sagrado que assalta o virtuoso à aparição de um semblante divino, um corpo perfeito — como ele estremece e se transporta, mal ousando olhar, venerando aquele que possui a beleza, sim, estando disposto a oferecer-lhe sacrifícios como a uma estátua, se não receasse passar por louco. Pois que a beleza, meu Fedro, e só ela, é digna de ser amada e visível ao mesmo tempo: ela é — nota bem! — a única forma do espiritual que recebemos através dos sentidos e que podemos suportar pelos sentidos. Ou então, o que seria de nós se, por outro lado, o divino, a razão, a virtude e a verdade se nos quisessem revelar através dos sentidos? Acaso não morreríamos e nos consumiríamos de amor, como outrora Sémele perante Zeus? Assim, a beleza é o caminho do homem sensível para o espírito — só o caminho, um meio apenas, pequeno Fedro... E em seguida proferiu o mais subtil, aquele cortejador astuto: ou seja, que o amante é mais divino que o amado, visto que naquele existe o deus e nestoutro não -- ideia que talvez seja a mais terna e a mais irónica que jamais foi pensada e da qual nasce toda a malícia e a mais secreta volúpia do desejo."

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

A DECLARAÇÃO

A DECLARAÇÃO





3 - CARACTERÍSTICAS

* FINALIDADE: Expressar ou manifestar, de um modo claro e categórico, uma disposição: vontade, decisão ou depoimento.

* INTENCIONALIDADE COMUNICATIVA: Compromisso do emissor na realização do que declarou.

* DISCURSO:

Registo formal:

* modelos predefinidos:

- declarações de compromisso;
- negocial;
- de impostos;
- …

* concepção de acordo com as situações específicas e os intervenientes:

- declarações de inconstitucionalidade;
- de voto;
- conjuntas;
- de acórdão;
- sentença;
- despacho;
- parecer ou decisão;
- …

* expressa ( escrita ou através de outro qualquer meio directo de manifestação da vontade);

* tácita ( deduzida de factos que, com toda a probabilidade, a revelam).


* Características da linguagem

● Muitas declarações possuem minutas e/ou impressos próprios;
● Utilização de vocabulário simples e adequado às situações.

4 - ESTRUTURA:

- ABERTURA

- identificação do declarante;
- muitas declarações têm formas específicas de abertura:
“Declaro, por minha honra,…”;
“Juro, por minha honra,…”;
“Para os devidos efeitos se declara que…”.

- ENCADEAMENTO

- assunto/ disposições e objectivos/ finalidade a que se destina;
- pode ter fórmulas específicas:


“Declara assumir o compromisso de…”, “Declara, para os efeitos consignados no nºX, do artigo Y da lei…” .

- FECHO

- data e assinatura do declarante;
- pode ter formas específicas de terminar.

FICHA FORMATIVA SOBRE O REQUERIMENTO

Lê o texto com atenção e responde às questões que se seguem.

Fracos níveis de Literacia entre os rapazes preocupam países desenvolvidos

Elas interessam-se mais pela leitura, ficam satisfeitas se recebem um livro como prenda, não se importam de passar uns momentos numa livraria. Gostam assumidamente de ler, de preferência todos os dias, sobretudo ficção, ainda que leiam também jornais ou revistas. Consideram-se, de resto, leitoras competentes. Mas se as letras as atraem, o mesmo não se pode dizer dos números. As raparigas de 15 anos dos países desenvolvidos acham que não têm muito jeito para a matemática. Com uma excepção: Portugal é o único da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico) onde também nesta área elas parecem mais interessadas do que eles.
De facto, quase universalmente, os rapazes gostam mais de matemática do que as raparigas. Já a leitura não é com eles. Os rapazes dizem que se interessam pouco por livros: 40% (média da OCDE) dos jovens do sexo masculino com 15 anos revelam que simplesmente não pegam num livro por prazer pessoal. Um terço dos rapazes portugueses partilha da mesma ideia. Estes são mais alguns resultados de um estudo da OCDE divulgado esta semana, cujo objectivo principal era avaliar as competências dos alunos de 15 anos, de 32 países, quando confrontados com exercícios ligados a situações da vida real.
Apesar de dizer que estes dados devem ser aprofundados em estudos futuros, a OCDE não tem dúvidas em afirmar para já que os hábitos, os interesses e também o sentimento de autoconfiança manifestados pelos jovens estão ligados ao seu desempenho e às competências que desenvolvem. E que, de facto, parece ser claro que há “assuntos” ― como a leitura ― que interessam mais ao sexo feminino e outros mais ao masculino, como a matemática. À escola cabe, segundo os peritos, minimizar estes factores. Eventualmente apostando em promover hábitos de leitura também entre os rapazes e motivando as miúdas para os números.
Um olhar sobre as médias da OCDE nos três tipos de literacia testados ― leitura, matemática e ciências ― revela o seguinte: elas têm resultados significativamente melhores do que eles na leitura, em todos os países; na literacia matemática, os rapazes superam as raparigas em metade dos países (incluindo Portugal); nas ciências, as diferenças entre sexos não são estatisticamente significativas na maioria dos casos (nomeadamente em Portugal).
Não são as diferenças médias na matemática que mais preocupam a OCDE (até porque elas escondem que não há muitos rapazes que se distinguem imenso das raparigas ― o que há é, em muitos países, uma pequena percentagem de rapazes verdadeiramente brilhantes que fazem com que a média masculina suba). É o desempenho (generalizado) do sexo masculino na leitura ― aí sim, significativamente díspar ― que mais apreensão causa.
(…)
“No passado, as preocupações relacionadas com as diferenças entre sexos estavam centradas no défice de desempenho das mulheres. Entretanto, elas não só progrediram como ultrapassaram os homens em muitos aspectos, ao ponto de hoje, sobretudo nalguns países, as preocupações estarem todas viradas para as dificuldades dos rapazes”, lê-se no relatório.
(…)
Em suma, os países “não estão a ser bem sucedidos na eliminação das diferenças entre sexos”. Por isso, continua a OCDE, os fracos resultados que, globalmente, os rapazes obtêm são, cada vez mais, “um desafio para os decisores políticos”. Há alguns exemplos a seguir, como o da Coreia do Sul onde de uma maneira geral parece haver “uma ambiente de aprendizagem que beneficia ambos os sexos”. Resta agora saber porquê.

Andreia Sanches, in Público, 9 de Dezembro de 2001 (texto adaptado)

I GRUPO

1. Explica, por palavras tuas, os resultados do estudo efectuado pela OCDE.

2. Refere o objectivo principal desse estudo.

3. Tendo tudo o anterior em conta, indica o papel que a escola poderá ter.

4. Indica as médias obtidas nos vários tipos de literacia.

5. Explica por que razão as diferenças médias na matemática, a favor dos rapazes, são ilusórias.

6. Comenta a seguinte afirmação: «Os resultados deste estudo sugerem uma grande mudança.»

7. A Coreia do Sul é citada como um bom exemplo. Porquê?

II GRUPO

1. Retira do texto dois advérbios de modo e explica a sua formação.

2.
2.1. Identifica dois conectores no texto e refere a sua função na coesão textual.

2.2. Completa a frase usando um conector adequado:

Os resultados do estudo da OCDE devem ser tidos em conta …
3.
3.1. Identifica os tipos das frases seguintes:

a) Não gosto nada de ler!

b) As raparigas lêem mais do que os rapazes.

c) Gostaste desse livro?

d) Deves ler mais.

3.2. A partir das respostas dadas, formula as perguntas mais adequadas e indica se são interrogativas totais ou parciais.

a) Não, ainda não li esse livro.

b) Eu prefiro livros de aventuras.

4. Identifica a pessoa, o número, o tempo e o modo das formas verbais presentes na seguinte frase:

Os resultados do estudo da OCDE revelam que existiu uma alteração que os estudiosos do tema não suspeitavam.
III GRUPO

Imagina que, enquanto delegado de turma, desejas organizar uma visita de estudo às instalações do Jornal Público, no âmbito do estudo do texto jornalístico, que está a ser desenvolvido na disciplina de Português.

1. De acordo com as regras que aprendeste, redige um Requerimento ao Presidente do Conselho Executivo, solicitando a autorização para essa visita.

FICHA DE TRABALHO SOBRE «O REQUERIMENTO»

Actividade:

Pré-Leitura

1 – Tendo em conta a designação “requerimento”, indica algumas situações em que, na tua opinião, se utilize esta tipologia textual.

2 – Apresenta o significado das seguintes palavras:


2.1 – requerente;
2.2 – requerimento;
2.3 – requerido;
2.4 – deferimento.

3 – Observa e descreve a mancha gráfica do texto a seguir apresentado.


Leitura




1 – Lê o texto atentamente.


2 – Identifica:

2.1 - O emissor ou requerente;
2.2 – A entidade ou instituição a que se requer;
2.3 – O que se requer;
2.4 – Os elementos de identificação exigidos;
2.5 – A fórmula final.

3 – Descreve o contexto subjacente à produção do texto lido.

4 – Caracteriza o discurso do texto, tendo em conta a pessoa gramatical predominante.


Pós-Leitura

1 – Revê com atenção as respostas que deste às questões e corrige eventuais deficiências.

2 – Participa atentamente nas actividades de sistematização que vão ser feitas posteriormente.

O REQUERIMENTO: DEFINIÇÃO E TIPOS


REQUERIMENTO





DEFINIÇÃO DE REQUERIMENTO – petição por escrito, segundo as normas legais, na qual se solicita alguma coisa a uma entidade oficial, da justiça ou da administração.


1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS

Dá-se o nome de requerimento a uma petição geralmente escrita, segundo as normas legais, dirigida a uma entidade oficial, da justiça ou da administração.

Intencionalidade comunicativa - Solicitar algo a que se tem direito ou se julga ter:

- obter informações sobre determinado assunto;
- solicitar providências;
- convocar uma ou mais sessões;
- obter determinado documento;
- …


Obedece a uma estrutura formal e linguística, normalizada por formulários dos serviços competentes. Deve:

- ser preenchido com clareza e perfeição;
- ser apresentado numa folha branca, ou formulário fornecido para o efeito;
- separar os diferentes pontos do texto por um espaço em branco.


Frequentemente obedece a um texto designado por “minuta” (o modelo) e, depois de preenchido, o original fica nos serviços competentes e a cópia é entregue ao requerente, após autenticação com o selo do estabelecimento.



CARTA DE APRESENTAÇÃO E CURRICULUM VITAE


Como redigir uma carta de apresentação

Um curriculum vitae deve ser sempre acompanhado por uma carta de apresentação, quer o candidato responda a um emprego público, quer se candidate espontaneamente a um escritório, sociedade de Advogados, empresas públicas ou privadas.

O curriculum apresenta as habilitações e as experiências profissionais, mas não é o suficiente para delinear o perfil do candidato: a carta de apresentação torna-se, por isso, um instrumento de apresentação formal, apelativo e sintético.

Uma carta de apresentação deve ser redigida sem erros ortográficos, gralhas e construções frásicas incorrectas. Tendo em atenção que o candidato está a dirigir-se a uma entidade de perfil desconhecido (que irá avaliar o seu percurso profissional e académico), por isso deve a carta ser redigida numa linguagem cuidada e formal.

Na carta de apresentação deve constar o nome, e caso esteja a trabalhar, a função e o local de trabalho. No caso de não estar a exercer qualquer actividade, ou estar a trabalhar numa função não direccionada ao lugar a que se candidata, explicite o porquê da sua candidatura.

Não escreva uma carta demasiado longa e detalhada: nem toda as pessoas têm tempo para ler a carta com a devida atenção. Seja conciso, objectivo e destaque as suas qualidades. Refira as áreas profissionais que mais lhe interessam, ou na quais se especializou. Também é importante deixar transparecer a sua opinião sobre o trabalho de equipa e a sua posição nas relações inter-pessoais.

Apresente as razões pelas quais acha que a escolha deverá recair na sua pessoa, ou quais as mais-valias associadas à sua contratação. Não obstante, faça-o sempre de forma moderada, ou corre o risco de ser considerado demasiado convencido e ter demasiadas certezas. Não exagere as suas qualidades ou resultados anteriores: seja, acima de tudo, verdadeiro e honesto consigo próprio e para com o seu eventual/futuro empregador.


No final da carta, despeça-se disponibilizando-se para uma entrevista, por forma a estabelecer um contacto mais próximo e real.

Faça um rascunho da carta, leia e releia, demore o tempo que achar necessário à sua redacção. Adapte o texto consoante o local a que se candidata, tendo em atenção o trabalho desenvolvido e os objectivos de cada entidade. É importante que sejam estabelecidos pontos de identificação entre o candidato e o empregador.

A carta de apresentação pode ser escrita à mão ou impressa em papel (à escolha do candidato). No entanto, quando se pretende que a carta seja manuscrita, as entidades referem sempre essa intenção nos anúncios, intenção essa que deve ser satisfeita.

À semelhança do curriculum, a carta tem que ser datada e assinada por mão própria, de preferência com uma letra legível.

Em suma:

- um curriculum deve ser sempre acompanhado por uma carta de apresentação;

- uma carta de apresentação deve ser redigida com muito zelo, concisa e objectiva;

- uma carta de apresentação deve expor as qualidades do candidato, as funções mais relevantes já exercidas e as razões pelas quais a escolha terá de recair no mesmo;
- uma carta de apresentação deve ser sempre datada e assinada.
Modelo Europeu de Curriculum Vitae
1. Informação pessoal:
- Nome:
- Morada:
- Telefone:
- Fax:
- Correio electrónico:
- Nacionalidade:
- Estado Civil:
- Carta de Condução:
- Disponibilidade:
2. Experiência(s) profissional(ais):
- Datas (de... até):
- Nome e endereço do empregador:
- Tipo de empresa ou sector:
- Função ou cargo ocupado:
- Principais actividades e responsabilidades:
3. Formação académica e profissional:
• Datas (de – até):
• Nome e tipo da organização de ensino ou formação:
• Principais disciplinas/competências profissionais:
• Designação da qualificação atribuída:
• Classificação obtida (se aplicável):
4. Aptidões e competências pessoais:
(Adquiridas ao longo da vida ou da carreira, mas não necessariamente abrangidas por certificados e diplomas formais)
5. Primeira língua:
(indique a língua materna)
6. Outras línguas:
• Compreensão escrita
• Expressão escrita
• Expressão oral
7. Outras aptidões e competências
8. Anexos
(Inclua nesta rubrica qualquer outra informação pertinente: por exemplo, pessoas de contacto, referências, etc. )

CARTAS DE AMOR

Cartas de amor

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que sãoRidículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, 21-10-1935 ( Heterónimo de Fernando Pessoa)

Actividade 1:

1. Neste poema, há uma aparente contradição. Por um lado "as cartas de amor.. têm de ser ridículas", por outro, as pessoas que nunca as escrevem "é que são ridículas". Explica, por palavras tuas, o pensamento do poeta.

2. O poeta tem saudades do tempo em que escrevia cartas de amor. Transcreve a estrofe que contém essa afirmação.

3. O que pensas das cartas de amor?

EXEMPLO DE UMA RECLAMAÇÃO


COMO FAZER UMA RECLAMAÇÃO


CARTA DE RECLAMAÇÃO


Exercício:

Imagina que o livro chegou com algumas folhas em branco. Elabora uma carta a pedir a sua substituição.

CARTA DE RESPOSTA A UM ANÚNCIO

A carta é, seguramente, um dos instrumentos mais úteis em situações diversas. Para além da carta de amor ou da carta a um(a) amigo(a), outras há que importa conhecer.

Carta - resposta a um anúncio

Maria Helena Costa Faria
Rua do Moinho, 37
9580 VILA DO PORTO
Tel: 628587

Vila do Porto, 15 de Agosto de 2007
Ex.mo Senhor,

Em resposta ao anúncio de V. Exa., publicado no Diário Insular de 15 do corrente mês, sob o número 777/07, venho por este meio candidatar-me ao emprego publicitado, pois julgo ter o perfil pretendido.
Com esse objectivo, remeto a V. Exa. o meu curriculum vitae colocando-me, desde já, à vossa disposição para um posterior contacto, onde poderei fornecer outras informações sobre a minha formação e experiência profissional.
Agradecendo antecipadamente toda a atenção que me queiram dispensar, subscrevo-me, com a mais elevada consideração.
Atentamente,

Maria Helena Costa Faria
Anexo: Curriculum Vitae
Actividade:

1. Elabora uma carta de apresentação/ candidatura, dando resposta ao seguinte anúncio de oferta de emprego:
PRECISA-SE

ACTOR/ACTRIZ

A Companhia de Teatro Vicentina admite actor/actriz, entre os 15 e os 20 anos, para integrar a peça de teatro “Um Novo Mundo”.

Resposta para:

Director Geral da Companhia de Teatro Vicentina,
Av. D.Pedro II, n.º2, 1º Dt.º, 8000-122 Faro
Diário do Sul, 10-11-05.
Enviar Curriculum Viate (modelo europeu)

FICHA DE TRABALHO SOBRE A CARTA

TEXTO

Minha querida Emília

Estamos aqui com um tremendo calor. Trinta graus à sombra na sala. Tenho saudades do mar, e dos pinhais de Paris-Plage. Arranjei o jardim para o usar como campo: mas faz lá mais calor do que dentro de casa, e os mosquitos abundam. A minha vida segue solitária e laboriosa – mas, graças a Deus, com saúde, a saúde costumada, uma mediania. Somente, com a enervação deste calor, tenho uma tal preguiça de estômago, que só posso jantar das 9 para as 10 da noite – às vezes em casa, Quelque chose de froid, outras vezes num restaurante do bairro. Não posso por isso acompanhar o Rosa, que janta sempre fora, mas a horas cristãs. Ele almoçou cá com o Falcão antes de ontem, para se fazerem grandes fotografias da Maria Teresa. Infelizmente o Falcão apareceu sem a máquina, que na véspera se desmanchara, depois de violentos trabalhos sobre o mar e sobre a terra (Dieppe, etc.). Rosa parte para Trouville para a semana elegante.
Noto o que dizes no teu bilhete de hoje sobre o Hotel. Porque não mudas? Agora que a estação já avança, talvez achasses um melhor Hotel, pelo mesmo preço, ou talvez ainda por melhor cómodo. Sobretudo tu que projectas estar um mês.
A casa avança com lentidão na sua limpeza. Antevejo com susto despesas inevitáveis. Assim, a Mme. Mars pretende que a nossa batterie de cuisine está fora de uso! Também me parece impossível deixar o office naquela imundície. E o quarto dos brinquedos precisaria bem papel e prateleiras. Mas tudo isso demanda reflexão.
Já devo carta à Marie e ao Zézé – mas enquanto me não desembaraçar da Revista, que é quase todo feito por mim e que me apanhou em veia, não tenho tempo para prazeres.
Têm feito fotografias? Mando uma carta da Benedita. Mil e mil beijos aos queridos meninos e para ti também larga dose do teu
José
Eça de Queirós, Correspondência (texto com cortes)
VOCABULÁRIO:

quelque chose de froid - alguma coisa fria
batterie de cuisine - trem de cozinha
office - escritório

I

O texto é uma carta informal, e como tal, destina-se a manter a comunicação, à distância com familiares e amigos.

1. Identifica o remetente e o destinatário.

2. Que relação familiar haverá entre estas duas pessoas. Justifica a tua resposta.

3. Refere dois temas, que fazem parte do assunto da carta.

4. Transcreve duas frases do texto que mostram a preocupação do remetente com a destinatária.

5. Qual a profissão do remetente. Explica-a com expressões do texto.

6. Refere duas marcas autobiográficas presentes na carta.

7. Explica o sentido das seguintes expressões:

· “a minha vida solitária e laboriosa”;

· “a saúde costumada”;

· “despesas inevitáveis”.

8. Refere três diferenças entre uma carta informal e uma formal.
II
1. Classifica morfologicamente as palavras a negrito na seguinte frase: “a casa avança com lentidão na limpeza”.

2. Escreve de novo a frase “Antevejo com susto despesas inevitáveis”, com o verbo no:

- Pretérito Imperfeito do Indicativo;

- Futuro Imperfeito do Indicativo.

3. Explica o processo de formação das palavras: “inevitáveis” e “lentidão”.

4. Identifica dois conectores na frase: “Não posso por isso acompanhar Rosa, que janta sempre fora, mas a horas cristãs”.
III

Nos nossos dias o telemóvel veio de certo modo, substituir outros meios de comunicação interpessoais, quer orais, quer escritos. Contudo, em determinadas situações, impõe-se o registo escrito.
Imagina que foste incumbido da tarefa de escrever uma carta a um familiar que, tendo emigrado para a Austrália, pretende adquirir uma vivenda, na cidade que abandonou há duas décadas. Nessa carta, procura descrever a casa, a localização, o preço e acrescentar que toda a família pensa que é um bom negócio e está muito satisfeita com regresso.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

A Carta Privada e a Carta Oficial / Comercial


A CARTA

A Carta

A carta é um texto escrito dirigido a uma pessoa ausente e tem uma estrutura própria. Observe:


Lista de Verificação da Estrutura da carta:

1. Registei o local e a data no canto superior direito;
2. Escrevi, na data, o mês por extenso;
3. Separei o local da data por vírgula;
4. Deixei uma margem à esquerda e outra à direita;
5. Comecei a carta com uma saudação ao destinatário;
6. Alinhei a saudação com o início dos parágrafos;
7. Fiz parágrafo a seguir à saudação ao destinatário;
8. O corpo da carta tem uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão;
9. O corpo da carta tem três ou mais parágrafos;
10. A carta inclui uma curta despedida;
11. Assinei a carta, no canto inferior direito.

DISTINÇÃO: TEXTO LITERÁRIO E UTILITÁRIO


TEXTO NÃO LITERÁRIO E TEXTO LITERÁRIO


O CONVITE

Convite

O texto do convite obedece sempre a uma estrutura semelhante à que, abaixo, se apresenta. Mesmo assim há pequenas variantes, conforme se pretenda: mais ou menos formal.

O RESUMO

O resumo apresenta de forma sumária as ideias desenvolvidas num texto, tendo em conta a ordem pela qual são apresentadas. Para tal, é necessário:

1.
- Ler atentamente o texto;
- Apreender a globalidade da mensagem transmitida;
- Dividir o texto em partes;
- Eliminar as ideias secundárias e acessórias.

2.
- Construir um texto, evidenciando as ideias principais;
- Não utilizar frases ou partes do próprio texto;
- Utilizar uma linguagem clara e precisa;
- Respeitar as regras de pontuação, sintaxe e ortografia.

NOTA: O resumo não deve ultrapassar um terço do texto original.

Evidentemente, alguns resumos são mais fáceis de fazer do que outros, dependendo especialmente da organização e da extensão do texto original. Assim, um texto não muito longo e cuja estrutura seja perceptível à primeira leitura, apresentará poucas dificuldades a quem resume. Em todo o caso, quem domina a técnica - e esse domínio só se adquire com a prática - não encontrará obstáculos na tarefa de resumir, qualquer que seja o tipo de texto.

Os resumos são, igualmente, ferramentas úteis ao estudo e à memorização de textos escritos. Além disso, textos falados também são passíveis de resumir. Anotações de ideias significativas ouvidas no decorrer de uma palestra, por exemplo, podem vir a constituir uma versão resumida de um texto oral.

Actividade

1. Lê o texto A e repara no resumo que foi feito a partir dele.





Em Portugal, sabe (o escritor) que não houve só boas reacções ao Prémio Nobel (ou "Nobél", como diz José Saramago seguindo a fonética sueca).
Houve quem confundisse a grandeza do prémio com o comprometimento político do escritor. Mas disso Saramago prefere não falar. A inveja é o sentimento mais mesquinho que existe" diz. " Não devemos perder tempo a falar de sentimentos maus, falemos antes dos bons sentimentos" frisa o autor.
É para falar de coisas boas que o escritor vai estar em Lisboa e depois no Porto, onde tal como já estava combinado antes, vai participar num encontro de escritores ibero-americanos. "Porque os escritores não fazem cimeiras, encontram-se para falar".

in Diário de Notícias, 98.10.13

2. Resumo do texto A

Em Portugal, não houve só boas reacções ao Prémio Nobel. Ligaram-no ao comprometimento político de Saramago. Mas o escritor recusa-se falar dessas reacções que atribui à inveja.
É para falar de coisas boas que virá a Lisboa e ao Porto, onde participará num encontro de escritores ibero-americanos.

3. Resume este texto apresentado.

O Prazer das histórias



Começou a escrever histórias aos 60 anos, mas há muito que as contava aos seus alunos. Albano Estrela, 71 anos, professor jubilado da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação, acredita piamente nas potencialidades educativas de uma boa narrativa e considera que são os discípulos que fazem o mestre e não o inverso. Estas e outras ideias, nem sempre muito bem recebidas nos meios académicos (como admite) fazem a singularidade do seu livro, Estórias com Pedagogia Dentro.
Apresenta-se como alguém que nunca saiu da escola. Com uma surpreendente capacidade de auto-ironia, Albano Estrela diz que o mundo exterior à sala de aulas sempre o assustou, mas o que se compreende ao longo da conversa é que foi o amor, e não o medo, que o convenceu a ficar. Filho de um antigo presidente do Sport Comércio e Salgueiros (popular associação desportiva do Porto), tornou-se professor por vocação e foi um dos pioneiros das Ciências da Educação em Portugal. Aposentado aos 70 anos por imposição burocrática, «continua» na sua bem-amada escola através da escrita, como o demonstram as crónicas que regularmente publica no site da Porto Editora, o «Educare», e o seu livro mais recente.

(in Visaoonline)

CONVOCATÓRIA

É um documento que chama os sócios para reunir, elaborado por quem tem poderes institucionais para o fazer. Normalmente, é dada a conhecer por aviso (ou postal) a cada participante, com a antecedência considerada necessária - nas associações é de oito dias - contendo:

_ o dia, a hora e o local da reunião;
_ a respectiva Ordem de trabalhos;
_ o assunto ou assuntos a serem tratados na reunião;
_ o tipo de sessão ou reunião - ordinária ou extraordinária;
_ a data em que ele é feita;
_ a pessoa que a emite e o seu cargo;
_ a assinatura desta mesma pessoa.


Actividade

Redige a acta da reunião convocada pela seguinte:




A ACTA




A acta reproduz os factos, as decisões e opiniões reportadas a assembleias, reuniões ou conselhos. É o relato oficial de tudo o que se passou durante a reunião de uma instituição, departamento, secção, conselho ou grupo de trabalho.
A acta é elaborada pelo secretário da reunião que tem a difícil e penosa tarefa de, ao longo dela, recolher os apontamentos indispensáveis à sua posterior elaboração. Deve ser escrita no livro de actas, cujas folhas devem estar rubricadas e numeradas, pelo Presidente da Mesa da Assembleia, o mesmo acontecendo com os termos de abertura e de encerramento.
A redacção da acta deve ser simples, concisa e clara; não deve haver abreviaturas e os números tal como as datas escrevem-se por extenso; intervalos em branco, entrelinhas e rasuras são eliminados.
A acta é o meio de formação da "vontade colectiva"; o elemento de prova e de interpretação dessa vontade; o registo da vida da instituição.

Conteúdo de uma acta:

A acta deve conter os seguintes elementos:


1. Recebe o número que lhe calhar;
2. Começa com a indicação do dia, mês, ano e hora em que teve lugar a sessão;
3. Indica o local da reunião;
4. Menciona o tipo de reunião: se ordinária, se extraordinária, se realizada em primeira convocatória, se em segunda convocatória;
5. Indica o nome dos presentes;
6. Inclui a Ordem de Trabalhos, na íntegra e tal como foi enviada na convocatória;
7. Refere a hora a que se iniciou e o número de sócios presentes;
8. Menciono a leitura, a votação e a aprovação da acta da sessão anterior, caso exista para aprovação;
9. Regista as comunicações feitas pelo Presidente da Mesa;
10. Retém os nome dos intervenientes e o resumo das suas considerações;
11. Inclui ainda o resultado de qualquer votação que tenha tido lugar;
12. Regista a fórmula de encerramento;
13. Deve ser assinada pelo presidente e pelo secretário.

BIOGRAFIA

Biografia

A biografia é um texto que relata a vida de uma pessoa, respeitando a ordem cronológica.
Conforme o seu objectivo, a biografia pode ser uma resumida (nota biográfica ou livro). A elaboração de uma biografia necessita de uma recolha prévia de informação: entrevista à pessoa em causa; depoimento de familiares, amigos, pessoas conhecidas; consulta de documentos.

Para produzir uma biografia:

- Redija na 3.ª pessoa;
- Integre, de forma organizada, datas, lugares, pessoas e factos marcantes da vida da pessoa biografada;
- Opte por um relato informativo ou por uma narrativa que destaca e valoriza determinados acontecimentos do percurso da pessoa biografada.



AUTOBIOGRAFIA de Sophia de Mello Breyner Andresen


«Nasci no Porto mas vivo há muito em Lisboa.
Durante a minha infância e juventude passava os verões na praia da Granja, de que falo em tantos dos meus poemas e contos.
Estudei no Colégio Sagrado Coração de Maria, no Porto, e quando tinha 17 anos inscrevi-me na Faculdade de Letras de Lisboa, em Filologia Clássica, curso que, aliás, não terminei. Antes de 25 de Abril de 1974 fiz parte de diversas organizações de resistência, tendo sido um dos fundadores da Comissão Nacional de Socorro aos Presos Políticos.
Depois de 25 de Abril de 1974 fui deputada à Assembleia Constituinte (1975-1976) e detesto escrever currículos...
[...]
Comecei a inventar histórias para crianças quando os meus filhos tiveram sarampo. Era no inverno e o médico tinha dito que eles deviam ficar na cama, bem cobertos, bem agasalhados. Para isso era preciso entretê-los o dia inteiro. Primeiro, contei todas as histórias que sabia. Depois, mandei comprar alguns livros que tentei ler em voz alta. Mas não suportei a pieguice da linguagem nem a sentimentalidade da "mensagem"; uma criança é uma criança, não é um pateta. Atirei os livros fora e resolvi inventar. Procurei a memória daquilo que tinha fascinado a minha própria infância. Lembrei-me de que quando eu tinha 5 ou 6 anos e vivia numa casa branca na duna - a minha mãe me tinha contado que nos rochedos daquela praia morava uma menina muito pequenina. Como nesse tempo, para mim, a felicidade máxima era tomar banho entre os rochedos, essa menina marinha tornou-se o centro das minhas imaginações. E a partir desse antigo mundo real e imaginário, comecei a contar a história a que mais tarde chamei Menina do Mar.
Os meus filhos ajudavam. Perguntavam:
- De que cor era o vestido da menina?
O que é que fazia o peixe?
Aliás, nas minhas histórias para crianças quase tudo é escrito a partir dos lugares da minha infância.»


in De que são feitos os sonhos

FICHA DE TRABALHO SOBRE «O RETRATO»

Retrato / Auto-retrato
"Magro, de olhos azuis, carão moreno",
como o poeta se auto-retratou e como o pintor (Elói) o viu



Magro, de olhos azuis, carão moreno,
bem servido de pés, meão na altura,
triste de facha, o mesmo de figura,
nariz alto no meio e não pequeno.

Incapaz de assistir num só terreno,
mais propenso ao furor do que à ternura,
bebendo em níveas mãos por taça escura
de zelos infernais letal veneno.

Devoto incensador de mil deidades
(digo, de moças mil) num só momento
e somente no altar amando os frades,

eis Bocage, em quem luz algum talento.
Saíram dele mesmo estas verdades
num dia em que se achou mais pachorrento.

Bocage

1. Delimita, no soneto de Bocage, a apresentação das suas características:

- físicas;
- psicológicas;
- ideológico-afectivas.

2. Demonstra que o auto-retrato físico do sujeito poético se aproxima da caricatura.

3. Relê a segunda e a terceira estrofes do poema.

3.1. Transcreve do poema o(s) verso(s) que exprimem, em relação ao eu poético:

- a incapacidade de se fixar;
- o temperamento arrebatador;
- a inconstância no amor;
- o seu suposto anticlericalismo.

3.2. Relaciona o sentido dos dois primeiros versos do primeiro terceto com o do primeiro verso da segunda quadra.

4. De que forma o último terceto atesta a autenticidade do auto-retrato apresentado?

5. Indica as principais características formais do poema.

O RETRATO

RETRATO




Descrever uma personagem corresponde a elaborar um retrato.

Este texto deve seguir uma estrutura lógica: do geral para o particular ou do particular para o geral; do físico para o psicológico ou do psicológico para o físico. O retrato é constituído por elementos de caracterização física, psicológica e social.

Para produzir um retrato:

- Descreva a pessoa ou personagem através dos traços físicos que a caracterizam, desde o aspecto geral aos pormenores (fisionomia, vestuário, gestos, etc.);

- Indique traços psicológicos e de carácter revelados pela pessoa ou personagem, através das suas atitudes e do seu comportamento;

- Refira o enquadramento e condição social da pessoa ou personagem (grupo, classe social, linguagem);

- Evite a repetição dos verbos “ser” e “ter” recorra a vocabulário sugestivo e a recursos expressivos).

Exemplificação

A Senhora do Retrato


Os retratos a óleo fascinam-me. E ao mesmo tempo assustam-me. Sempre tive medo que as pessoas saíssem das molduras e começassem a passear pela casa. Para falar verdade, estou convencido que isso aconteceu algumas vezes. Em certas noites, quando eu era pequeno, ouvia passos abafados e tinha a sensação de que a casa ficava subitamente cheia de presenças. Ainda hoje não gosto de atravessar os longos corredores das velhas casas com grandes retratos pendurados nas paredes. Há olhos que nos seguem do alto e nunca se sabe o que de repente pode acontecer.
Havia na casa da tia Hermengarda um quadro deslumbrante. Ficava ao cimo das escadas, à entrada do corredor que dava para os quartos de dormir. Mesmo assim, rodeado de sombras, irradiava uma luz que só podia vir de dentro da dama do retrato.
Não sei se da blusa muito branca, se dos olhos, às vezes verdes, às vezes cinzentos. Não sei se do sorriso, às vezes alegre, às vezes triste. Eu parava muitas vezes em frente do retrato. Era talvez o único que não me assustava. Creio até que dele se desprendia uma luz benfazeja, que de certo modo me protegia.
Mas havia um mistério. Ninguém me dizia quem era a senhora do retrato. Arminda, a criada velha, benzia-se quando passava diante do quadro. Às vezes fazia
figas e estranhos sinais de esconjuração. A prima Luísa passava sem olhar.
- Essa pergunta não se faz - disse-me um dia em que lhe perguntei quem era aquela senhora.
Percebi que não gostava dela e que era um assunto proibido. Até a minha mãe me ralhou e me pediu para nunca mais fazer tal pergunta. Mas eu não resistia. Por vezes
descaía-me e dava comigo a perguntar quem era a senhora dos olhos verdes, quase cinzentos, que me sorria de dentro do retrato.
Com a minha tia-avó, eu tinha uma relação especial. Ela lia-me histórias e poemas inquietantes. Creio que troçava das convenções, talvez das próprias pessoas. Por vezes era difícil saber quando estava a sério ou a brincar. Apesar de já ser muito velha, tinha um sentido agudo do
ridículo. Foi a primeira pessoa verdadeiramente subversiva que conheci. Era óbvio que tinha um fraco por mim. Pelo menos era o único membro da família a quem ela tratava como um igual. Dormia no andar de baixo e nunca subia as escadas. Talvez por isso eu nunca lhe tinha perguntado quem era a senhora do retrato.
Um dia, farto já de tanto mistério e ralhete e, sobretudo, das gaifonas da Arminda e do ar empertigado da prima Luísa, não me contive e perguntei-lhe. A minha tia sorriu. Depois levantou-se, pegou no molho de chaves que trazia preso à cintura, abriu uma gaveta da escrevaninha e tirou um álbum muito antigo. Voltou a sentar-se e lentamente começou a mostrar-me as fotografias. Eram quase todas da senhora do retrato e do meu primo Bernardo, que há muito tinha partido para a África do Sul.
Apareciam juntos a cavalo e de bicicleta. E também de fato de banho, na praia da Costa Nova. Havia alguns em que o meu primo estava de smoking e ela de vestido de noite. Via-se também a tia Hermengarda, mais nova, por vezes os meus pais, gente que eu não conhecia. Até que chegámos à senhora do retrato já de branco vestida.
- Natacha - murmurou a minha tia, com uma
névoa nos olhos.
E depois de um silêncio:
- Ela chama-se Natália, mas eu gosto mais de Natacha, sempre a tratei assim. É preciso dizer que a tia Hermengarda tinha vivido em Moscovo no início da carreira diplomática do marido e era uma apaixonada dos autores russos, Pushkine, Dostoievski, principalmente Tolstoi, que visitou algumas vezes em Isnaia Poliana. Identificava-se com as personagens de Guerra e Paz. Creio que amava secretamente o príncipe André e gostava de ter sido Natacha. Falava muito da alma russa. Era uma propensão do seu espírito.
- Tu também tens alma russa - dizia-me. E era como se me tivesse armado cavaleiro.


Manuel Alegre, O Homem do País Azul, Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1989.

Compreender o texto

Vamos interpretar o texto. Seleccione a opção que lhe parece correcta para completar a frase.


1. O narrador sempre receou os retratos a óleo porque tinha medo que:

a) caíssem da moldura e nunca mais conseguisse consertá-los.
b) as pessoas retratadas partissem o vidro para poder fugir.
c) caíssem em cima dele e o matassem.
d) as pessoas saíssem da moldura e passeassem pela casa.


2. Em casa da tia Hermengarda havia um quadro que constituía um mistério porque:

a) ficava no cimo do corredor e ele não conseguia vê-lo bem.
b) ninguém sabia quem era a pessoa retratada.
c) a senhora do retrato tinha um aspecto que metia medo.
d) ninguém da família respondia às perguntas sobre a senhora retratada.


3. A tia-avó do narrador nunca passava em frente daquele retrato porque:

a) tinha medo que lhe trouxesse azar.
b) dormia no andar de baixo e não subia as escadas.
c) não dava importância ao assunto.
d) nunca descia as escadas e dormia no andar de cima.


4. O narrador teve informações sobre o retrato quando a tia Hermengarda lhe:

a) apresentou algumas roupas da senhora.
b) mostrou fotografias e contou a história da senhora.
c) disse que a senhora tinha sido casada com Pushkine.
d) explicou que a senhora era Natalina e lhe chamavam Natacha.


5. Hermengarda falava muito da alma russa:

a) porque tinha vivido em Moscovo durante a sua carreira diplomática.
b) porque tinha vivido em Minsk no início da carreira diplomática do marido.
c) e dos autores russos, principalmente Tolstoi.
d) e de Tolstoi que gostava de ter conhecido.

Nota Biográfica de:


Manuel Alegre nasceu em 1936, em Águeda. Depois de frequentar o Liceu Alexandre Herculano, no Porto, estudou Direito na Universidade de Coimbra, participando activamente na vida académica e nos acontecimentos que marcaram a luta contra a ditadura, na década de sessenta do século XX. Mobilizado para Angola em 1962, viria a ser preso pela PIDE, durante seis meses, na prisão de S. Paulo de Luanda, no seguimento de uma tentativa de rebelião contra o regime e contra a guerra colonial. Para não ser de novo preso, saiu para o exílio no Verão de 1964, passando os dez anos seguintes em Argel. Regressou a Portugal em Maio de 1974, na sequência da revolução de 25 de Abril.
Figura da vida política portuguesa, Manuel Alegre tem desenvolvido, ao mesmo tempo, uma intensa actividade literária, sobretudo no domínio da poesia.
Entre a obra do autor, destacam-se os seguintes títulos:
Poesia: Praça da Canção (1965); O Canto e as Armas (1967); Atlântico (1961); Alentejo e Ninguém (1996); Senhora das Tempestades (1998);
Ficção: Jornada de África (1989); O Homem do País Azul (1989) e Alma (1995)


SABIA QUE…?

«A Senhora do Retrato», título do conto de Manuel Alegre, evoca um género com uma longa tradição na pintura europeia, desde os alvores do Renascimento – o retrato.
Sabia que no Museu Nacional de Arte Antiga podemos encontrar um quadro de um pintor anónimo do século XVI intitulado... «Retrato de uma Senhora»?! E, mais próximo de nós, sabia que
Retrato de Senhora é também o título de um quadro de António Soares (1894-1978)?
Preocupados com a reprodução dos traços físicos ou procurando captar e sugerir o perfil psicológico da pessoa retratada, muitos foram os artistas que cultivaram o género ao longo do tempo. Transpuseram para a tela personagens do seu círculo, individualmente ou em grupo, e nenhum artista escapou à tentação de uma variante do género: o auto-retrato.